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ARTIGO DE OPINIÃO: "O Palco da Discórdia", por Ricardo Bragança Silveira

 

Nos últimos dias fomos confrontados com a notícia do ajuste direto, por parte da Câmara Municipal de Lisboa, da construção do Palco para a Jornada Mundial da Juventude. Que fique bem claro que sou totalmente a favor da realização da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa este ano, contudo há limites.

Em 2019, aquando da JMJ no Panamá, e após a candidatura de Lisboa para receber a edição de 2022 da JMJ, o Papa Francisco anunciou que seria no nosso país a realização da JMJ. Era para se realizar em 2022, contudo, a Pandemia da COVID19 veio atrasar um ano a realização deste grande evento. Ou seja, Lisboa sabe desde Janeiro de 2019 que vai ser a anfitriã da JMJ. Tinha 3 anos para se preparar, mas a pandemia deu mais um ano. 4 anos, mas nós, à boa maneira tuga, deixamos tudo para a última da hora. Depois andamos sempre a correr atrás do prejuízo. Mas, neste caso, a culpa não é da Igreja. A culpa é exclusivamente da Câmara Municipal de Lisboa. Quando tomou posse como Presidente da Câmara Municipal, Carlos Moedas ameaçou que Lisboa não iria cumprir com o que o seu antecessor se comprometera em relação à Jornada. Claro está que se tratou de um bluff perigoso, porque, perante a possibilidade de a JMJ se deslocar em exclusivo para os Concelhos a norte da Região de Lisboa, Moedas teve de recuar. Todo o processo anda a ser feito em 3 velocidades, lento, lentinho e quase parado. Ora, quando estamos a 6 meses da Jornada, Moedas decide adjudicar, por ajuste direto, à Mota Engil a construção do palco pela “módica” quantia de 4,2 milhões de Euros mais IVA. Defende Carlos Moedas que este investimento vai ter retorno e eu nem coloco isso em causa, contudo, gastar mais de 5 milhões de euros num palco é só estúpido. Mais, uma obra deste valor ser adjudicada por concurso direto. Diz Carlos Moedas que foram consultadas várias empresas e que esta fez o valor mais baixo. E diz Carlos Moedas que este palco vai ficar para outros eventos. Carlos Moedas pode dizer o que quiser, certo é que a polémica está instalada. Quando Bento XVI visitou Portugal em 2011, gastou-se 300 mil euros no palco. 12 anos depois gasta-se 14 vezes mais para a JMJ. Bem sei que a inflação se apoderou dos nossos dias, mas penso que seja demais. Claro que um palco nada tem a ver com o outro, mas será necessária tanta imponência, quando o próprio Papa Francisco pede contenção dentro da Igreja Católica? A mim parece-me, claramente, que Carlos Moedas se atirou para fora de pé. Agora claro que veio dizer que vai repensar e tudo isso, mas demonstra a clara falta de maturidade para ser Autarca.

Muitos, agora, dizem que também se gastaram milhões na Expo, no Euro 2004, na TAP e afins. Pois foi, mas não vamos manchar um grande evento (talvez o maior que Portugal recebeu nos últimos anos) por causa de um palco. O que desejo é que a JMJ seja um sucesso e que se reúnam jovens com espírito de missão no nosso país e que levem boas recordações. E que estes tristes episódios não manchem aquilo que deve ser um desígnio nacional.

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