ARTIGO DE OPINIÃO: "Talibãs e perda dos direitos das mulheres - O Extremismo", por Francisco António

Infelizmente, nos últimos dias, muito (ou talvez pouco) se tem falado da ofensiva militar dos Talibãs no Afeganistão, ocupando mesmo a Capital , Cabul. Os talibãs conquistaram Cabul no dia 15 de agosto, concluindo uma ofensiva iniciada em maio, quando começou a retirada das forças militares norte-americanas e da NATO. As forças internacionais estavam no país desde 2001, no âmbito da ofensiva liderada pelos Estados Unidos contra o regime extremista (1996-2001), que acolhia no seu território o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, principal responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001.
Mas quem são afinal estes Talibãs ? Os Talibã congregam indivíduos das tribos afegãs, a maioria deles da etnia pashtun. Têm pouco a ver com a Al Quaeda, porém, apesar das ideologias distintas, os dois grupos são aliados e ajudam nas questões de logística, armas e dinheiro. Além disso, quando expulso de vários países, Osama Bin Laden, um dos fundadores da Al Qaeda, foi acolhido pelo Talibã no Afeganistão.
A
sociedade Talibã é especialmente repressiva sobre as mulheres e crianças, e
deixamos aqui muitas das restrições impostas às mulheres nos tempo em que os
Talibãs dominaram o Afeganistão, como agora está a acontecer. (RAWA na sigla inglesa) faz uma lista de 29 restrições
e maltratos impostos às mulheres durante esse tempo. Apesar de os talibãs terem
afirmado que “não querem que as mulheres sejam vítimas”, não especificaram
que tipo de medidas iriam ser adotadas neste sentido, temendo-se que estas
restrições voltem a ser impostas. “Esta lista oferece apenas um vislumbre da
vida infernal que as mulheres afegãs são obrigadas a levar sob o regime talibã e refletem vagamente a profundidade da
sua privação e sofrimento”.
As 29 restrições aplicadas pelos
talibãs às mulheres, segundo a RAWA:
Proibidas de trabalhar: Existia a proibição total do trabalho feminino
fora de casa. Apenas algumas médicas e enfermeiras tinham permissão para
trabalhar em alguns hospitais de Cabul (capital do Afeganistão).
Completa proibição de qualquer tipo de atividade fora
de casa: As mulheres só podiam sair de casa
se fossem acompanhadas pelo marido ou por um familiar masculino como pai, avô,
irmão ou filho.
Proibidas de realizar negócios com comerciantes do
sexo masculino.
Proibidas de ser tratadas por médicos homens.
Proibidas de estudar: As mulheres não tinham permissão de andar na
escola, universidade ou qualquer outra instituição educativa. As escolas para
raparigas foram convertidas pelos talibãs em seminários religiosos.
Obrigadas ao uso de um longo véu (burca) que as cobre
da cabeça aos pés.
Podiam ser chicoteadas, espancadas e vítimas de abusos
verbal: A mulheres que não se vistam de
acordo com as regras dos talibãs ou que não estejam acompanhadas pelo marido ou
por um familiar masculino podiam ser vítimas de violência física e verbal.
Podiam ser chicoteadas em público as mulheres que não
escondessem os tornozelos.
As mulheres acusadas de ter relações sexuais fora do
casamento eram condenadas ao apedrejamento público até à morte.
Proibidas de usar produtos de cosmética: Não podiam usar por exemplo maquilhagem nem
verniz. Houve casos de mulheres que, por usarem verniz nas unhas, tiveram os
dedos amputados.
Proibidas
de falar ou apertar a mão a homens: Só
o podem fazer aos maridos ou familiares.
Proibidas
de rir em voz alta: Os talibãs consideravam que
ninguém estranho à mulher poderia ouvir a sua voz.
Proibidas
de usar saltos altos que produzissem som ao caminhar: Os homens não podiam ouvir os passos de uma
mulher.
Proibidas
de apanhar um táxi: Só o podiam fazer
acompanhadas pelo marido ou familiares do sexo masculino.
Proibição
da presença feminina na rádio, televisão ou reuniões públicas de qualquer
natureza.
Proibidas
de praticar desportos ou entrar em qualquer clube desportivo.
Proibidas
de andar de bicicleta ou mota: Só
o podiam fazer se fossem acompanhadas pelo marido ou familiar do sexo
masculino.
Proibidas
de usar roupas de cores vivas: Para
os talibãs, as cores vivas eram consideradas “cores sexualmente atraentes”.
Proibidas
de reunir para festividades: Como
para os Eids, as celebrações em nome de Alá.
Proibidas
de lavar roupa nos rios ou praças públicas.
Modificação
de todos os nomes de ruas e praças que incluíam a palavra “mulher”: Por exemplo o nome “Jardim das Mulheres” passou para
“Jardim da Primavera”.
Proibidas
de espreitar das varandas do seu apartamento ou casa.
Todas
as janelas das casas tinham de ser opacas: Esta
obrigatoriedade tornava impossível que alguém da rua conseguisse ver as
mulheres dentro das suas casas.
Alfaiates
masculinos não podiam medir, nem costurar roupas femininas.
Proibidas
de utilizar casas de banho públicas.
Não podiam viajar no mesmo autocarro que os homens: Existia uma distinção entre os autocarros para
homens e os para mulheres.
Proibidas de usar calças largas: Mesmo que fossem usadas por baixo da burca, as calças
largas continuavam a ser proibidas.
Proibição de fotografar ou filmar mulheres.
A impressão de imagens de mulheres em revistas, livros, ou penduradas em casas ou lojas eram proibidas.
Como se pode
verificar as mulheres não têm a menor importância aos olhos dos talibãs, exceto
quando estão envolvidas na procriação, na satisfação dos desejos sexuais dos
homens ou assumindo o pesado trabalho doméstico. As restrições dos talibãs- comparáveis
às da Idade Média- continuam a matar o espírito do povo, privando-o de toda a existência humana.
Invade-nos um misto de raiva e tristeza,
quando ouvimos que numa operação de algures no Mediterrâneo, os homens
reclamaram por, na acção de salvamento, ser dada prioridade a crianças e
mulheres. Invocando razões culturais, os homens entendiam ser resgatados em
primeiro lugar.
Isto remete-nos para a condição da mulher em países, regiões e etnias que não evoluíram social e humanitariamente. Ficaram-se pelos civilizações mais sombrias da Idade das Trevas. Para esses povos a História parou há muito tempo.
Dramático é que sejam estes homens, com as suas obscenas peculiaridades culturais, que estão a invadir a Europa. E que, na maior parte das vezes, resistem à aculturação de países civilizados que há muito abandonaram os seus hábitos tribais mais ou menos bárbaros. Secundarizando as mulheres…