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ARTIGO DE OPINIÃO: "Dia da Espiga", por Francisco António

 


Em tempos, este dia era feriado e muito respeitado por todos. Muitas pessoas, para evitarem trabalhar nesse dia, reforçavam a ração dos animais e cozinhavam de véspera. Tratava-se de uma festa rural, ligada à Primavera.

A partir de 1952 deixou de ser Feriado Nacional. Obrigada a abdicar de alguns feriados a Igreja Católica aceitou sacrificar a Quinta Feira da Ascensão como Feriado Nacional. No entanto, muitos Concelhos, para colmatar esse facto mantiveram-no como feriado Municipal.

A Festa da Ascensão, ou Quinta Feira da Ascensão, é uma festa marcadamente Católica. Celebra-se o dia da subida de Cristo ao Céu, uma vez cumprida a sua missão na terra, fechando um ciclo de quarenta dias que se abriu pela PÁSCOA.

Mas o carácter sagrado dessa quinta-feira é muito anterior ao cristianismo e encerra outros significados não menos profundos.
Assim, também o judaísmo popular assinala este dia como aquele em que se deu uma outra ascensão; A de Moisés ao monte Sinai para receber as Tábuas com os Dez Mandamentos.
Nessa ocasião, a aliança que Deus celebrou com o seu povo estabelecia que, se o povo cumprisse a sua parte, Deus lhe daria condições de prosperidade para a vida agrícola.

Da Páscoa à Ascensão o tempo é, pois, de festa. É a própria natureza que desabrocha e amadurece, aliada aos dias que vão crescendo e à temperatura que vai subindo, que convida à alegria. A Quinta-feira de Ascensão é o corolário destes quarenta dias que são, sem dúvida, os mais belos e mais encantadores de todo o ano.

No entanto, em simultâneo com a Ascensão, e provavelmente com maior adesão, celebra-se o Dia da Espiga, ou Quinta Feira da Espiga. O grande símbolo do Dia da Espiga é o ramo da Espiga, e que é tido, como um símbolo de prosperidade, e ao mesmo de sorte. Consigo acarreta também algumas tradições, como a de em dias de trovoada atirar um pouco da espiga para a lareira como protecção contra os raios.

O ramo, no seu todo, é composto por ESPIGAS, PAPOILAS, MALMEQUER, UM RAMINHO DE OLIVEIRA, ALECRIM, E UMA PEQUENA VIDE DA VIDEIRA COM UM CACHO A FLORESCER.

AS ESPIGAS devem ser sempre em número ímpar, e são a parte mais importante do ramo. Podem ser de trigo, centeio, aveia, ou qualquer outro cereal. Representam o pão, como a base do sustento da família, e a fecundidade.

A PAPOILA, Com a sua cor vibrante e quente significa neste ramo o amor, a vida. Sendo a parte mais garrida do ramo acaba por ser também aquele que mais se decai com o ano a passar, ao escurecer e secar.

O MALMEQUER, Simboliza no ramo a riqueza, e os bens terrenos. Isto pelo seu branco simbolizar a Prata, e ao mesmo tempo o amarelo simbolizar o Ouro.

A OLIVEIRA, acaba por ter um duplo significado no Ramo da Espiga. Em parte significa a Paz, e o desejo pela mesma. Sendo que é um dos símbolos da Paz desde a antiguidade.
Ao mesmo tempo é o símbolo da Luz, visto do seu óleo, azeite, se encherem as lâmpadas que alumiavam as casas. Sendo que esta Luz pode ser interpretada como o sentido divido da mesma, significando a sabedoria divina.

O ALECRIM, tal como a Oliveira é uma presença constante pelo mediterrâneo. Com o seu cheiro forte e duradouro, e sendo uma planta que resiste a quase tudo, simboliza no ramo a força e a resistência. Ao contrário da Papoila, avançando no ano, o seu cheiro vai-se aguentando, e a sua presença torna-se cada vez mais notada no ramo.

A VIDEIRA, é a representação do vinho, tão importante para a nossa cultura e tradição, no Ramo da Espiga vem naturalmente da Videira. Naturalmente também a associação à alegria também tão ligada ao Vinho na nossa cultura passa também por esta planta.

Estas são as plantas principais do Ramo da Espiga, sendo que, tradicionalmente, qualquer outra planta que surja durante a caminhada do Dia da Espiga pode ser adicionada para embelezar. No entanto, reza a tradição que não pode faltar nenhuma das acima indicadas, para não faltar o que ela representa.

A apanha da espiga, mesmo hoje, quase nunca é um acto solitário. Em tempos, até há cerca de meio século, saía-se para o campo em ranchos, sobretudo de rapazes e raparigas, mas que integravam também gente de todas as idades, incluindo crianças e idosos.

Depois do ramo completo, é tradicionalmente colocado em casa, atrás da porta principal, e fica lá todo o ano. Isto até ser substituído no ano seguinte por um novo ramo. É tido no seu todo como um símbolo de prosperidade, e de sorte.
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