ARTIGO DE OPINIÃO: "Joacine Katar Moreira vs André Ventura", por Francisco António
Antes de nos
debruçarmos sobre o diferendo protagonizado por estes dois Senhores Deputados
da Assembleia da Republica, vamos recordar quem são estas duas polémicas
figuras, que têm, praticamente a mesma idade:
JOACINE KATAR MOREIRA, nasceu a 27 de Julho de 1982 em Bissau, na Guiné-Bissau. Vive em Portugal desde 1990, tendo dupla nacionalidade,
Portuguesa e Guineense. É licenciada em História Moderna e Contemporânea –
vertente de Gestão de Bens Culturais, mestre em Estudos do Desenvolvimento e
doutorada em Estudos Sociais;
É membro do Grupo de Contacto do partido LIVRE e foi cabeça de lista por este partido, no círculo
de Lisboa, nas eleições legislativas portuguesas de 2019, tendo sido eleita como deputada. Foi a primeira
deputada eleita pelo LIVRE na história do partido e uma de três mulheres negras
eleitas para o parlamento português em 2019;
ANDRÉ
VENTURA, nasceu a 15 de Janeiro de
1983, em Algueirão – Mem Martins, é advogado e professor de Direito.
A 9 de Abril de 2019, fundou o partido político CHEGA
e, a 12 de Abril de 2019, associou-se à Coligação Basta! para as Eleições Parlamentares Europeias de 2019. Não conseguindo eleger
qualquer Eurodeputado, a coligação foi
dissolvida a 30 de Julho de 2019. Concorreu às Eleições Legislativas Portuguesas de 2019, pelo partido CHEGA, como cabeça-de-lista, pelo círculo
eleitoral de Lisboa, acabando por ser eleito
como o primeiro deputado do partido por si
fundado. Tem posições liberais economicamente, nacionalistas
culturalmente e conservadoras em questões de costumes.
A grande divergência entre estes dois Deputados com assento na
Assembleia da Republica, e que ultimamente tem sido notícia, prende-se com o
facto de Joacine Katar Moreira, numa das
32 alterações, apresentadas pelo seu
partido, ao Orçamento de Estado para 2020, ter apresentado uma proposta para que o património
das ex-colónias portuguesas, actualmente na posse de museus e arquivos
nacionais, seja identificado e devolvido às comunidades de origem.
Um trabalho a ser desenvolvido
por um “grupo de trabalho composto por museólogos, curadores e investigadores
científicos” e tendo em vista, segundo a proposta de Joacine Katar Moreira, a
"descolonização da cultura". No fundo, o que o Partido Livre pretende é que todo o património das ex-colónias,
presente em território português, possa ser restituído aos países de origem de
forma a "descolonizar" museus e monumentos estatais.
Reagiu o
Deputado André Ventura, na sua conta de Facebook, publicando um post em que
sugeria que a própria deputada Joacine fosse devolvida ao seu país de origem; A
Guiné Bissau. Seria uma muito mais tranquilo para todos, até para o próprio
partido Livre, e para Portugal.
O que começou como um debate em torno de uma
proposta apresentada na Assembleia da República pela deputada do Livre, acabou
em publicações de Facebook, primeiro de André Ventura, deputado do Chega, como
já foi referido, e depois de um conjunto de pessoas em reacção à mesma,
incluindo a própria Joacine, num imenso rol de comentários divergentes,
apoiando e criticando um e outro, mas com uma percentagem muito elevada em
apoio a André Ventura.
A MINHA OPINIÃO:
Não sendo adepto de extremismos, a minha
inclinação ou ideologia política, situa-se longe, quer do LIVRE, quer do CHEGA.
E também não sou racista, muito pelo contrário, tenho alguns bons amigos de cor
negra e que me merecem tanto respeito e consideração como os meus amigos de cor
branca.
Assim sendo, e em consciência, é minha opinião
de que alguém que nasceu num País estrangeiro, neste caso na Guiné-Bissau, e
que veio para o nosso país porque lhe é permitido ter e fazer o que nunca teria,
nem faria, no país onde nasceu; Que pediu a nacionalidade portuguesa e que
chegou ao Parlamento de Portugal eleita por Portugueses.
Como Deputada de pleno direito apenas lhe
compete defender, em primeiro lugar, os interesses de quem a elegeu e do País
que a recebeu, pois foi esse o compromisso que assumiu, e nunca supostos
interesses de outros Países.
Se fosse um outro qualquer cidadão, com dupla
nacionalidade, a fazer esta reivindicação, ainda seria aceitável e, avaliando
os contornos, talvez até se justificasse; Agora alguém eleito pelo povo, para
representar esse mesmo povo, não tem nem direito, nem legitimidade, para propor
o que quer que seja que, de alguma forma, possa lesar esse mesmo povo.
Todo o património que a Senhora Deputada
refere, também faz parte integrante da história de Portugal, e é em Portugal
que deve permanecer, tal como o vasto património, pertença de Portugal e dos
Portugueses, que ficou noutros Países e por lá permanece. Os povos dos Países
Africanos de expressão Portuguesa, tiveram o cuidado de destruir muito do que
dizia respeito a Portugal, na altura das Independências, e que também fazia
parte da nossa história e também da deles, mas não souberam, ou não quiseram,
respeitar isso.
Recordo que a Índia, após a anexação dos
territórios administrados pelo Portugueses, manteve todo o nosso património
cultural que por lá existia, exactamente porque foi seu entendimento, que esse
património também fazia parte da sua história.
Os portugueses que tiveram que abandonar esses
Países, quase sem trazer nada, deixaram por lá muita funcionalidade, tal como cidades,
vilas, estradas, portos e aeroportos, escolas, hospitais, centros de saúde,
cinemas, teatros, campos de futebol e muitos negócios encaminhados para os
nativos, e ainda prósperas fazendas, etc. Não nos podemos esquecer também os
tantos milhares de Portugueses que por lá perderam a vida e, muitos deles,
mesmo depois de mortos, nem sequer foram devolvidos à sua Pátria.
Em minha opinião, (e continua apenas a ser só a minha
opinião) entendo que, e ao abrigo da liberdade de expressão que o Estado de
Direito me permite, não pode existir um único português de verdade que não se
sinta ofendido, e provocado por esta proposta da Senhora Deputada Joacine Katar
Moreira. Se o caminho fosse este, muitas contas haveriam para ajustar, mas não
vale a pena aprofundar este delírio, a que muitos, lamentavelmente, dão palco.
Para terminar,
também é minha opinião, que o procedimento do Senhor Deputado André Ventura
devia ter sido mais ponderado, principalmente nas afirmações proferidas contra
a Senhora Deputada, tenham sido elas xenófobas ou não.